17 de dezembro de 2012

No centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça

Se Lopes Graça fosse vivo, celebraria no dia 17 de dezembro o seu centésimo sexto aniversário. O autor, compositor e intérprete, maestro, musicólogo e historiador da música que também foi, nasceu em Tomar, corria para o seu fim o ano de 1906. A infância passou-a na cidade de Tomar e muito embora se tenha mudado para Lisboa, no início dos anos 20, para estudar no Conservatório Nacional e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é em Tomar que inicia a sua atividade de músico pianista no Cine-Teatro da cidade, pouco depois estreando-se como editor e escritor empenhado na causa republicana, no Jornal A Ação (1928-1931), com apenas 22 anos. A música atravessara-se na sua vida de forma casual mas decisiva com o encontro acidental com um piano numa casa residencial que o pai adquirira em Tomar, como nos relata Leonor Lains no seu artigo «Fernando Lopes Graça – Músico/Compositor» (em: http://www.vidaslusofonas.pt/lopes_graca.htm)


Compositor, Lopes Graça foi também escritor prolífico, com um extenso catálogo de obras originais que inclui monografias e estudos dedicados aos problemas da composição musical, artigos e colaborações em diversas publicações periódicas. Lopes Graça foi também, por força das circunstâncias políticas adversas que lhe vedaram a possibilidade de uma carreira oficial de Professor de música, tradutor e revisor (por exemplo, nas edições da Seara Nova de que foi Secretário de Redação entre 1946 e 1949). Multifacetado, o seu catálogo de tradutor não deixa de acusar o traço comum da sua formação humanista: inclui obras de Jean-Jacques Rousseau, o pai dos Direitos do Homem, Honoré de Balzac, Leão Tolstoi ou Thomas Mann, sem esquecer as edições dedicadas às artes e muito particularmente à música.

Homem de coragem e perseverança, preso por diversas vezes por não renunciar às suas convicções (em 1931, 1935), não deixou por isso de incansavelmente dedicar a sua vida à promoção da cultura – artística, musical, literária, popular e erudita – resistindo contra as vicissitudes de ter sido um mal-amado do regime de António Salazar pelo seu comunismo frontalmente assumido (e reafirmado com a adesão ao MUD – Movimento de Unidade Democrática, em 1945). Este valeu-lhe o afastamento compulsivo de diversos organismos oficiais e a censura das suas obras, com a proibição da sua execução pública, mantida até aos anos 70.

Patrono da Escola Secundária e agora Sede de Agrupamento de Escolas da Freguesia de Parede, Lopes Graça foi paredense por adoção, fruto de circunstâncias que ditaram o seu estabelecimento nesta Vila do Concelho de Cascais, na década de 60, já numa fase de maturidade plena. Muitos de nós paredenses - de nascimento ou adoção como o próprio compositor - ainda se lembram da figura franzina de ancião solitário, cabelos ondulantes e esbranquiçados, que cruzava pela Avenida da República arrojando os pés nuns sapatos que pareciam feitos para alguém maior do que ele, ou encostado a um muro em ameno falatório com os amigos…

O programa cultural que assinala a efeméride dos 106 anos do Nascimento do maestro e compositor, organizado pela Casa Museu Verdades de Faria/Museu da Música Portuguesa que alberga o espólio do compositor, prolonga-se por todo o mês de dezembro, com uma exposição de fotografia de Patrick Devresse sobre as «Melodias Rústicas Portuguesas» para piano de Lopes Graça. Apresentada na Casa de Portugal em Paris, em abril deste ano, a exposição poderá ser visitada até 31 deste mês. Com a chegada de mais um período de férias do Natal, convidamos pais e alunos da ESFLG a realizarem um passeio ao belíssimo conjunto do jardim e da Casa-Museu onde poderão também apreciar a preciosa coleção de instrumentos musicais populares portugueses. (AC)

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